Médico denuncia calamidade da saúde em Caicó

A situação critica que assola a saúde caicoense está cada dia pior. Falta de estrutura, mau gerenciamento, ausência de médicos plantonistas, entre outros, são alguns dos problemas enfrentados no município. Um dos segmentos mais preocupantes é a obstetrícia, a qual se observa a falta de médicos para o atendimento a mulheres em trabalho de parto.
Em contato com a nossa reportagem, o médico Elísio Galvão, especialista em obstetrícia, mostrou a realidade enfrentada pelos profissionais da saúde em Caicó.
Geraldo Oliveira: Como o senhor avalia a saúde em Caicó?
Elísio Galvão: Geraldo, para fala sobre a saúde em nosso município precisa-se, inicialmente, lembrar que a situação é muito crítica em todo o país. Mas tratando de Caicó é necessário entender que temos muitos problemas de ordem gerencial que devem o mais rápido possível, serem resolvidos. Alguns fatos, por exemplo, precisam ser mostrados. Hoje, estamos com problemas nas operações de urgência, os partos, por exemplo, os quais são considerados como urgências e carecem da falta de anestesistas para a realização do procedimento cirúrgico. Neste caso, especificamente, a falta de dinheiro é visível.
Geraldo Oliveira: Qual a atitude do médico quando na impossibilidade do procedimento cirúrgico?
Elísio Galvão: Não podemos fazer nada. A situação é a seguinte: na hora que nasce um menino com problemas, em sofrimento fetal, é quase que atestar o óbito. Os obstetras não são preparados para dar assistência a essa criança. Nos últimos dois dias nasceram três crianças com 6 meses e não tivemos nada a fazer, a não ser obrigar a família procurar um pediatra particular, vale ressaltar que neste dia não havia médico pediatra atendendo particular, e isso eu considero desumano. O máximo que podemos fazer é mendigar atendimento em cidades como Currais Novos, Parnamirim, entre outras. Mas o certo é que nestes casos, infelizmente, é quase que atestar o óbito.
Geraldo Oliveira: Como é a situação dos elementos básicos para o trabalho do profissional de Saúde?
Elísio Galvão: Lamentável. Já falamos terminantemente e parece que ninguém escuta. Roupas no centro cirúrgico, os ferros já não servem mais para operar, falta fio para costurar as cirurgias, os gases e compressas. Juntando tudo isso já dar para saber um pouco de como está a saúde caicoense.
Geraldo Oliveira: O Ministério Público já teria tomado conhecimento da situação aqui em Caicó?     
Elísio Galvão: Há pouco tempo eu cheguei para trabalhar no plantão de obstetrícia e não tinha medico em nenhum dos dois hospitais da cidade. Eu chamei o promotor Geraldo Rufino para, in loco, comprovar a situação. Já também fizemos uma reunião com a Dr. Fladja Raiane e passamos informações de como anda a saúde no município.
Geraldo Oliveira: Informações afirmam que uma paciente chegou ao hospital para cirurgia e, após o inicio do procedimento, foi constatado a falta de fio para a costura, o senhor confirma?
Elísio Galvão: Isso aconteceu no Hospital do Seridó. Para podermos chegar o útero era necessário um fio que não tínhamos e precisamos esperar que fossem buscar em outra cidade do Seridó. Paramos o procedimento cirúrgico por horas até que ser resolvido o problema. Tínhamos a opção de colocar um fio fino, mas iríamos colocar a paciente em risco. Caso o útero abrisse seria morte na certa.
Geraldo Oliveira: Trabalhar na saúde em Caicó está difícil para a população e para os médicos?
Elísio Galvão: Eu diria impossível. O melhor seria que fôssemos transferidos para outro lugar. Agora é preciso que a rede básica possa funcionar, o que não está acontecendo. Precisamos de mais profissionais para trabalhar, mais investimento, entre outros.
Geraldo Oliveira: Acima de tudo é hora de unir forças políticas, autoridades e a sociedade para melhorar a saúde caicoense?
Elísio Galvão: Com certeza. Essa é hora de mudarmos e todos devem se unir. Caso isso não aconteça vai terminar, como sempre, na cabeça do mais fraco.

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