Em cada lugar, uma memória: a história do RN contada nos caminhos da assembleia

Quem percorre os espaços públicos
do Palácio José Augusto, pode relembrar traços da história política do Estado.
A começar pelo governador que dá nome à sede da Assembleia Legislativa do Rio
Grande do Norte, basta que se tenha acesso ao Salão Nobre Deputado Iberê
Ferreira de Souza e ao Auditório Deputado Cortez Pereira para lembrar
personagens que deixaram suas marcas também como gestores.
A história continua sendo contada
quando se chega ao Plenário Deputado Clóvis Motta, à Sala de Redação Jornalista
Luciano Herbert ou passa pelo Espaço Cultural Deputada Maria do Céu Fernandes.
Depois de atuar como Procurador
da República em 1905 e juiz da Comarca de Caicó, José Augusto Bezerra de
Medeiros, patrono da Casa Legislativa, começou sua carreira política como
deputado estadual em 1913. Na Assembleia, ajudou a escrever a Constituição do
Estado, em 1915, ao lado de deputados como Henrique Castriciano, Tomás
Salustino e Alberto Maranhão.
José Augusto teve uma carreira
política vitoriosa com sete mandatos de deputado federal, dois de senador da
República, e no meio destes, um mandato de governador do Rio Grande do Norte,
de 1924 a 1928. “José Augusto é uma figura pública de uma proeminência incrível
no Rio Grande do Norte”, ressalta o historiador Plínio Sanderson, explicando
que o potiguar chegou ao Governo a partir da amizade com o então presidente da
República, Arthur Bernardes. “Teve um episódio chamado ‘As cartas falsas’, onde
o presidente foi acusado de enviar cartas falando mal das Forças Armadas. E foi
José Augusto quem terminou provando que as cartas não eram verdadeiras, e assim
ele ficou muito amigo de Arthur Bernardes”, explicou Plínio.
Segundo o historiador, José
Augusto, autor de duas revistas cariocas – ‘A Educação’ e ‘A Educação
Brasileira’ – governou o Rio Grande do Norte e elegeu como sucessor o tio
Juvenal Lamartine. “Ele fez um governo interessante, onde apoiou a mudança
genética do algodão mas, o maior destaque foi a lei do voto feminino, que foi
em 1927”, disse Plínio.
Assim como José Augusto, José
Cortez Pereira também foi indicado para administrar o Rio Grande do Norte. Ele
foi o primeiro governador biônico do Estado (1971 a 1975) e foi escolhido pelo
presidente Emílio Garrastazu Médici em 1970. “Foi durante uma conferência em
Recife, ele fez um discurso na Academia Militar e esse discurso foi muito bem
visto pelos militares, o que lhe proporcionou a indicação”, conta Plínio
Sanderson, que classifica Cortez Pereira como um homem visionário. “Como
governador ele plantou as raízes do desenvolvimento no Rio Grande do Norte. Ele
estudou a questão agrária e criou projetos como o Polo Nordeste, Chapada do
Apodi, Serra do Mel (com base em kibutz de Israel), o Bicho da Seda, e até
cultivou amoras em Nísia Floresta”, lembrou o historiador, que cita como
destaque o Projeto Camarão, que ficou conhecido em todo o mundo.
“Ele transformou uma área que
naquele tempo não tinha muito valor, que eram os manguezais, em criadouros de
camarão. Ainda lutou pelo plantio de café nas serras do Rio Grande do Norte,
foi o primeiro gestor a se preocupar com planejamento familiar, com o Projeto
Minerva”, ressaltou Plínio, lamentando que, pelo que conta a história, os
ESPAÇOS NOBRES grandes projetos de Cortez Pereira, por questões políticas,
foram “engavetados” pelos gestores seguintes, impedindo que o plano de
desenvolvimento do Estado desse seguimento.
Cortez Pereira foi cassado depois
de sua gestão, e quando morreu, em 2004, exercia o mandato de prefeito do
município de Serra do Mel. Como legado do Governo Cortez, a Assembleia
Legislativa aprovou, em julho de 2015, a denominada ‘Lei Cortez Pereira’, que
regulamentou a atividade de carcinicultura em bases sustentáveis no Rio Grande
do Norte.
Também começando a carreira
política como deputado estadual, exercendo dois mandatos, e depois federal, com
cinco mandatos consecutivos, Iberê Ferreira de Souza, que dá nome ao Salão
Nobre da Casa, foi governador do Rio Grande do Norte. Como vice eleito na chapa
da então governadora Wilma de Faria em 2006, assumiu o Governo em 31 de março
de 2010, quando a titular renunciou para disputar uma vaga no Senado. Iberê
governou até 31 de dezembro do mesmo ano.
Além dos mandatos eletivos, Iberê
foi auxiliar dos governos chefiados por Lavoisier Maia, José Agripino Maia,
Garibaldi Alves Filho e do primeiro Governo Wilma de Faria. Como deputado
federal, ajudou a escrever a Constituição de 1988, sempre mantendo o tom de
parlamentar municipalista que permeou seu carreiro como político.
“Uma vez o partido reuniu a
bancada federal para definir como iria se posicionar para votar o aumento de um
ano do presidente José Sarney. Iberê disse que só responderia depois de ligar
para os prefeitos aliados no Rio Grande do Norte”, lembrou o ex-deputado
estadual, ex-presidente da Assembleia Legislativa e primo de Iberê, Ezequiel
Ferreira de Souza. “Iberê era um grande municipalista e tinha um amor enorme
pela sua terra e pelo povo de Santa Cruz; exerceu a vida pública como
sacerdócio e prestou muitos serviços ao Rio Grande do Norte”, ressaltou
Ezequiel, pai do atual presidente da Casa, Ezequiel Galvão Ferreira de Souza.
Iberê morreu no dia 13 de
setembro de 2014, em decorrência de complicações causadas por um câncer que foi
diagnosticado em 2010, ano em que assumiu o Governo.

Plenário
Como vice do governador Monsenhor
Walfredo Gurgel, Clóvis da Motta exerceu a presidência da Assembleia
Legislativa no período de 1966 a 1971, época em que o vice-governador
automaticamente assumia a presidência do legislativo. Antes, em 1954, foi
eleito deputado estadual, tendo se destacado pela recriação do Corpo de
Bombeiros Militar, criado em 1917. “Quando ele morreu foi transportado para o
sepultamento em carro aberto do Corpo de Bombeiros”, lembrou o cunhado Carlito
Meirelles.
Clóvis Motta, que dá nome ao
Plenário da Assembleia Legislativa, exerceu ainda dois mandatos como deputado
federal, e foi eleito presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do
Norte (FIERN). Os herdeiros políticos são o deputado estadual Ricardo Motta e o
deputado federal Rafael Motta.
Quem passa pelo principal
corredor do Palácio José Augusto se depara com uma permanente exposição de
obras de arte assinadas por artistas plásticos do Rio Grande do Norte. O lugar
denominado Espaço Cultural Deputada Maria do Céu Fernandes, homenageia a
primeira mulher a ocupar o cargo de parlamentar na Assembleia Legislativa do
Rio Grande do Norte. A potiguar nascida em Currais Novos também foi a primeira
deputada estadual do Brasil. Eleita com 12.058 votos, teve seu mandato cassado
em 1937, por discordância das ideias getulistas durante o Estado Novo.
Com um olhar curioso sobre todos
os personagens que dão nome a espaços de destaque na Assembleia Legislativa,
cobrindo a política que contava a história de cada um dos personagens citados,
o jornalista Luciano Herbert também entrou para a história do Palácio José
Augusto, e não apenas como coordenador de Comunicação, cargo que exerceu no
período de 2006 a 2009. O editor da Tribuna do Norte, Diário de Natal, e
repórter correspondente do Jornal do Brasil, que morreu em outubro de 2015,
vítima de um câncer, hoje dá nome à sala da Assessoria de Imprensa da Casa.
Decisão do plenário com apoio dos 24 deputados da legislatura.

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